Leituras paralelas
Posted by atrida em Terça-feira, Setembro 9, 2008
A leitura de “Paulina Vestida de Azul” de Joaquim Paço d’Arcos e de “O Homem Proibido” de Nelson Rodrigues oferece paralelismos muito curiosos. Paço d’Arcos escreveu a peça em 1948, enquanto que o pernambucano publicou o romance em fascículos, sob o pseudónimo Susana Flag, em 1951.
Em ambas as obras, duas mulheres muito chegadas disputam o mesmo homem amado. No caso da peça de Paço d’Arcos, mãe e filha; no caso de Rodrigues, duas primas. Naquela obra só muito lentamente o leitor vai adivinhando o conflito, ao passo que em “O Homem Proibido” se apercebe do choque desde as primeiras páginas. (Curiosamente, na versão de “Paulina” levada à cena no Teatro Nacional D. Maria em 1948 – encenação de Palmira Bastos – alguns diálogos foram suprimidos, dificultando ao espectador a compreensão para a acrimónia de Paulina ao longo de toda a peça.)
A escrita de Paço d’Arcos é escorreita, levantando o véu sobre as personalidades envolvidas na acção com grande subtileza; Nelson Rodrigues tem uma escrita muito doce, quase carinhosa com alguns personangens, espantando os leitores com a pontual eclosão de cenas de um dramatismo paroxístico.
Ambos os escritores situam a acção em meios sociais desafogados, Paço d’Arcos no seio de uma família da alta sociedade lisboeta, Rodrigues numa família rica do Rio de Janeiro.
Em Paço d’Arcos é difícil o leitor identificar-se com algum dos personagens, praticamente nenhum é credor da nossa afeição; em Nelson Rodrigues o leitor cedo sente carinho por quase todos os personagens, tanto com as suas atitudes dignas e elogiáveis como com as suas fraquezas. Naquele, a última página é alcançada com uma sensação de quase cansaço – não pela leitura em si, que decorre ligeira e é cativante – mas pelo desenrolar da acção e com a compreensão dos móbeis sórdidos que explicam os eventos; em Rodrigues, a última folha é passada com a tristeza de quem chegou ao fim de uma obra longa (quase 500 páginas) com o mesmo entusiasmo com que passou a primeira folha.
Lory said
O quê? Não posso crer? Então não é que não sou o único e que o meu excelentissimo FSantos, agora Atrida, também lê Joaquim Paço d’Arcos?
Que maravilha!
Perdoe-me esta impertinencia após longa ausência destas lides, mas não resisti!
Anónimo said
muito legal essa comparação, pois eu estava mesmo precisando de um exemplo de literatura comparada obrigada