Já não há fantasmas
Posted by atrida em Quarta-feira, Dezembro 24, 2008
Houve um tempo em que as crianças europeias passavam fome, em que o perú à mesa era caso raro. Um tempo em que a ingenuidade infantil não conseguia entender os Scrooge deste mundo, seres empenhados na ganância e desprezando os valores simples e verdadeiros, a família unida, a simplicidade, a bondade.
O progresso material, a par de uma metódica dessacralização do mundo ocidental, tornou o Natal num festim de consumismo, em que os produtores e os publicitários encaram cada menino como um Scroogezinho em potência, um fanático acumulador de brinquedos, que os pais, eles próprios consumidores compulsivos – de plasmas e carros -, lhes fazem chegar às mãos, sentindo-se culpados do pouco tempo que dedicam aos rebentos.
E os brinquedos vêm, a cada ano que passa, pior atamancados: sob uma capa moderna não duram um avo do que duravam os brinquedos de nossos avôs, que sem prémios de design cumpriam a função de preencher o imaginário infantil. E os brinquedos de hoje lá vêm do Oriente, na sua manufactura participando crianças que podiam muito bem ser personagens de um Dickens desta era. Olhar assustado, cansados, obrigados a uma vida de labores forçados sem terem podido passar pela infância – vão ajudando a encher os bolsos dos Scrooges coevos.
Nesta era de trevas não há fantasmas de Marley capazes de levar ao arrependimento os gananciosos que fazem giram o globo terrestre em torno da sua conta bancária.
É Natal, tempo de celebrar o Menino e de esperar por tempos melhores. Quem dera ter ainda a ilusão dos bons meninos de Dickens!
Mário Martins said
Caro Atrida
Um Santo Natal para Si e Sua Família.
Cumprimentos.
Mário
Maria said
Quem nos dera… mas esses são tempos de sonho e maravilha que já não voltam mais. E o simples pensamento de que isso não aconteça e que nos enche a alma de tristeza, não tem descrição possível.
Bonito texto como sempre. Já aqui deixei Boas Festas mas renovo-as com a esperança de que 2009 veja o fim deste absoluto inferno que aos portugueses foi dado viver sem o pedir ou o querer.